O QuintoAndar foi avaliado em US$ 4 bilhões em um rodada liderada pela Ribbit Capital em que captou US$ 300 milhões. Os recursos serão usados para a plataforma de aluguel, compra e venda de imóveis reforçar sua operação brasileira e, ao mesmo tempo, dar início a sua internacionalização a partir do México.

A rodada foi seguida pelo SoftBank Latin America Fund, LTS, Maverick, Alta Park, Dragoneer, Qualcomm, Kaszek e uma gestora americana de ativos diversificados com mais de US$ 2 trilhões sob administração, cujo nome não foi revelado.

Essa é a quinta rodada de investimento do QuintoAndar desde sua fundação, em 2013, por Gabriel Braga e André Penha. A última captação foi em setembro de 2019, quando a empresa foi avaliada em US$ 1 bilhão, tornando-se um unicórnio, como são chamadas as startups bilionárias. No total, a companhia já levantou mais de US$ 600 milhões em investimentos.

“É um round bem representativo e tínhamos mais demanda do que levantamos”, afirma Braga, ao NeoFeed. “O valor captado é um indício de que estamos entregando resultados.”

Com a avaliação de US$ 4 bilhões, o QuintoAndar supera Cyrela e MRV, as duas maiores construtoras brasileiras, que valem juntas quase US$ 3,3 bilhões na B3, de acordo com um levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica, feito a pedido do NeoFeed.

Na B3, há 23 empresas no setor de construção e incorporação. A soma do valor de mercado de todas elas é de US$ 9,5 bilhões. O QuintoAndar sozinho representa 41% do valor de todas elas.

O QuintoAndar se torna também a proptech mais valiosa da América Latina. Na região, avaliando todas as startups, só está atrás do Nubank, que foi avaliado em US$ 25 bilhões, e tem o mesmo valuation da empresa de compra e venda de carros mexicana Kavak, segundo dados do CB Insights.

Além disso, o QuintoAndar superou a rival local Loft em sua avaliação privada. Em abril, a startup de compra, venda e reforma de imóvel fundada por Florian Hagenbuch e Mate Pencz concluiu uma rodada série D de US$ 525 milhões e foi avaliada em US$ 2,9 bilhões.

A entrada da Ribbit Capital, um dos principais investidores globais em fintechs, é também um indício de que o QuintoAndar vai intensificar o desenvolvimento de serviços financeiros atrelados as suas ofertas.

A gestora do venezuelano Meyer “Micky” Malka já investiu em Nubank, ContaAzul, Warren, Cora, Gorila e Onze no Brasil. Internacionalmente, o portfólio da Ribbit Capital conta com Coinbase, Brex e Robinhood, entre outras fintechs.

“O investimento da Ribbit no QuintoAndar é um reconhecimento de que tem muita oportunidade na parte financeira”, afirma Braga. “O core de fintech é muito importante.”

Braga, no entanto, não detalha quais seriam esses serviços financeiros, mas diz que já testa o crédito imobiliário com alguns bancos parceiros e que conseguiu reduzir o tempo entre a solicitação e conclusão do empréstimo de 60 a 70 dias para menos de um semana.

Com os recursos do aporte, o QuintoAndar vai dar início a sua internacionalização nos próximos meses a partir do México. A ideia é de que todos os serviços do Brasil também estejam disponíveis quando a operação mexicana começar a funcionar. “Acredito que o México tenha dores parecidas com o Brasil para serem resolvidas”, afirma Braga.

O dinheiro vai ser usado também para aumentar a presença no mercado brasileiro. Hoje, o QuintoAndar está presente em 40 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Recife e Vitória.

A operação de compra e venda de imóvel, que está em operação apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, deve também chegar a novas praças.

Sem entrar em detalhes, Braga fala ainda “em outras transações imobiliárias inovadoras que vêm por aí.” O que poderia ser isso? “Dá para ser mais criativo e criar soluções com mais afinidades com o Brasil”, diz Braga, citando o modelo de propriedade compartilhada de imóveis.

Em março deste ano, a americana Pacaso se tornou a startup mais rápida do mundo a atingir uma avaliação de US$ 1 bilhão: apenas cinco meses após sua fundação. O modelo da companhia permite que várias pessoas sejam coproprietárias de casas de veraneio.

Pela primeira vez, o QuintoAndar abriu também alguns dados de sua operação. De acordo com a startup, são mais de 10 mil novos contratos de aluguel fechados por mês por meio da plataforma. No total, são mais de 100 mil contratos ativos.

Em seu primeiro ano de atuação na área de compra e venda de imóveis, o QuintoAndar vendeu mil imóveis. A startup diz que há mais de 60 mil anúncios em sua plataforma e que tem mais de R$ 50 bilhões em ativos sob gestão

Vale tudo isso?

O valuation do QuintoAndar levanta a questão se investidores não estão exagerando na avaliação feita em alguns ativos. Afinal, faz sentido a startup valer mais do que Cyrela e MRV?

Há dois fatores que explicam esses valores, segundo Marcelo Coutinho, coordenador do mestrado profissional da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Em primeiro lugar, está a liquidez do sistema financeiro. Com juros baixos, os investidores têm aumentado o apetite por ativos de crescimento exponencial.

“E por que o Airbnb vale mais que o Hilton? Eles pegam um sistema arcaico e lotado de ineficiências e colocam tecnologia”, afirma Coutinho. “A compra, venda e aluguel de imóveis é lotada de ineficiências.”

Quando surgiu, a proposta do QuintoAndar foi levar tecnologia para um setor cheio de burocracias e bastante analógico. Segundo a empresa, a negociação, documentação e a assinatura do contrato são feitas digitalmente, tanto em aluguel como em compra e venda.

Com isso, a velocidade média das transações é de 55 dias. No modelo tradicional, chega a 420 dias, segundo o QuintoAndar. A startup também paga fotos profissionais do imóvel, sem custo para proprietário, para dar uma melhor experiência para as visitas virtuais.

Será isso suficiente para ser considerada uma empresa inovadora e chegar a uma avaliação tão alta? “É óbvio que os valores estão acima do que é razoável. Parece que estamos em 2000, em plena bolha”, afirmaDaniel Domeneghetti, sócio do Grupo ECC e CEO da consultoria DOM Strategy Partners.

Para ele, esses valores estão ancorados na falsa premissa da hiperdigitalização. Domeneghetti concorda que o digital tem muito potencial de valorização. “Mas o físico ainda vai se valorizar bastante”, diz ele.

Questionado sobre ser mais valioso do que Cyrela e MRV, Braga diz que isso é uma grande responsabilidade. “Admiro Cyrela e MRV, como consumidor e como empreendedor”, afirma. “Mas é uma coisa matemática: é um mercado muito grande e há uma expectativa que vamos pegar um percentual desse bolo.”